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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

DUAS MULHERES HERÓICAS

Segue um texto do D. Estevão Bettencourt para pensarmos nessa semana... será que nossa fé se assemelha à dessas mulheres?
Abraços!
João Batista


D. Estevão Bettencourt

Vão, a seguir, apresentadas duas figuras femininas – Elisabetta Canori Mora e Pauline-Elisabeth Leseur -, que, por sua fidelidade a Deus e à sua vida conjugal, conseguiram, depois de falecidas, impressionar os respectivos maridos incrédulos, levando-os a sincera e profunda conversão. – São testemunhas do valor de uma vida reta e perseverante em meio às dificuldades cotidianas; na Comunhão dos Santos o comportamento de um autêntico cristão ganha extraordinária fecundidade espiritual.

1. ELISABETTA CANORI MORA (1774-1825)

Aos 24/04/1994, o Santo Padre beatificou (declarou “Bem-aventurada”, passo imediatamente anterior à Canonização) duas mulheres heróicas: uma delas – Gianna Beretta Molla – faleceu em 1962 por não querer matar a criança que estava em seu seio grávido, ainda que, por causa disto, tivesse que sacrificar a própria vida; a sua figura já foi apresentada em PR 374/1993, pp. 311-317. A outra mulher heróica é Elisabetta Canori Mora, que se distinguiu por sua fidelidade incondicional ao compromisso matrimonial, embora seu marido a traísse; após a sua morte (1834), o viúvo se converteu e tornou-se frade franciscano conventual.

Esta Segunda figura feminina merece destaque em nossas páginas.

Elisabetta nasceu na cidade de Roma em 1774, de família aristocrática. Foi educada no Colégio das Irmãs Agostinianas de Cascia (1785-1788). Com 22 anos de idade, casou-se com Cristoforo Mora, filho de um dos melhores médicos de Roma em seu tempo. Não decorrera um ano desde o enlace matrimonial e Elisabetta descobriu que seu marido entretinha uma relação extra-conjugal; era dado ao jogo, às especulações financeiras e maçom declarado. Por isto pouco se importava coma esposa e as filhas, que nasceram do convívio com Elisabetta.

A esposa tudo fez para reconduzir o marido ao bom caminho. Pôs de lado até mesmo seu garbo, dando-lhe quatro filhas (das quais duas morreram em tenra idade), sem jamais lhe lançar em rosto o seu comportamento desleal ou lhe censurar a voluntária imaturidade. A fim de garantir a educação das meninas, Elisabetta assumiu trabalhos duros e humildes. Certa vez foi intimada a pagar as dívidas do marido, a fim de evitar que fosse preso; não se revoltou, mas vendeu o mobiliário de sua case e se transferiu de uma residência confortável para um pequeno apartamento.

Nos anos mais difíceis e sofridos da sua vida, Elisabetta encontrou forças na oração e nos conselhos sábios que lhe deram o Pe. Pizza, jesuíta, e o Pe. Fernando San Luigi, Religioso trinitário, tido como um dos mais experimentados diretores espirituais do seu tempo.

Em 1808 Elisabetta entrou para a Ordem Terceira Trinitária¹; encarregou-se então do atendimento aos mais necessitados – doentes, pobres, casais em crise…; fazia-o com plena generosidade, continuando a doação que havia anteriormente prestado às suas filhas. A sua modesta residência tornou-se em breve um lugar de oração e acolhimento. Finalmente morreu em 1825, deixando eloqüente testemunho de fidelidade conjugal e de amor ao próximo.

Após a morte da esposa, o marido sentiu-se tocado pelo depoimento de vida de Elisabetta e converteu-se de suas conduta devassa a um comportamento de bom cristão, chegando a tornar-se frade franciscano conventual em 1834.

Após o devido exame dos documentos relativos a Elisabetta, o S. Padre houve por bem apresentar essa heróica mulher ao povo de Deus como modelo para tantas outras esposas infelizes em seu casamento. Pelo sacramento do matrimônio os nubentes se comprometem a promover não apenas o bem temporal do (a) respectivo (a) consorte, mas também a santificação do (a) Mesmo (a); foi o que Elisabetta procurou fazer, por mais árdua que fosse a tarefa ou mesmo sabendo-se traída por seu marido. E ela conseguiu o que almejara, pois a consideração de tanta firmeza e magnanimidade acabou convencendo o viúvo de que devia mudar de vida e reparar suas faltas; Elisabetta lhe obtivera a maior das graças, que era a da conversão.

Caso semelhante se deu em nosso século, como se dirá abaixo.

2. PAULINE-ELISABETH LESEUR (1866-1914)

Eis outra grande figura feminina.

Pauline-Elisabeth nasceu em Paris aos 16/10/1866; recebeu da família uma sólida educação cristã e e valioso patrimônio cultural, que utilizou durante toda a vida na qualidade de escritora. Casou-se com Félix Leseur, materialista e colaborador de jornais anticlericais, que tudo fez para extinguir a fé da esposa; coagiu-a a ler obras de autores racionalistas, como Les Origines du Christianisme e La Vie de Jésus de Ernest Renan. Elisabeth, porém, percebeu a fragilidade das hipóteses de Renan e quis controlar a validade dos seus argumentos, dedicando-se intensamente ao estudo da Religião, do Evangelho e de S. Tomás de Aquino. Este aprofundamento só contribuiu para tornar mais convicta a sua vida cristã, levando-a a exercer o apostolado entre os intelectuais e incrédulos, como também a praticar obras de caridade. Muito se empenhou pela conversão de seu marido, sem o conseguir, até o momento de sua morte ocorrida em Paris aos 03/05/1914.

Tendo perdido a esposa, o viúvo descobriu o Diário deixado por ela: Journal et Pensées pour chaque Jour (Jornal e Pensamentos para cada dia). A leitura destas notas impressionou Félix Leseur, que resolveu mudar de vida; uma vez convertido, fez-se frade dominicano e tornou-se grande propagandista das obras de sua esposa: além do journal… publicado em Paris (1917), editou Lettres sur la Souffrance (Cartas a respeito do Sofrimento), Paris 1918; La Vie Spirituelle (A Vida Espiritual) Paris 1918; Lettres à des Incroyants (Cartas e Incrédulos) Paris 1922.

Eis outro grande vulto feminino, que atesta quanto pode ser forte a mulher fiel a Deus e ao seu compromisso conjugal. Elisabeth deixou escrita famosa sentença, que revela o segredo do seu êxito apostólico: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”.¹ Elevando-se em Deus no silêncio, na paciência e ano amor perseverante, ela conseguiu elevar seu marido e, com ele, muitos e muitos irmãos, pois na comunhão dos Santos o cristão se torna espiritualmente fecundo, sem mesmo poder avaliar o alcance de sua vida fiel e tenaz (Deus, porém, o vê).

Sem dúvida, seria possível arrolar muitas outras Elisabetta e Elisabeth, cuja história heróica e fecunda só Deus conhece. Possam as mulheres cristãs de nossos dias reconfortar-se com tais testemunhos e crer sempre mais no elevado preço da vida fiel a Deus e a Cristo na Santa Igreja!

_____________________¹ Nas Ordens Religiosas medievais, a Ordem Primeira è a dos frades; a Ordem Segunda é a das freiras, e a Ordem Terceira é a dos leigos e leigas, que, vivendo da espiritualidade respectiva, permanecem no mundo.¹ Esta frase mereceu ser citada pelo S. Padre João Paulo II na sua Exortação Apostólica sobre Reconciliação e Penitência nº. 16: “Reconhecer… uma solidariedade humana tão misteriosa e imperceptível quanto real e concreta… uma faceta daquela solidariedade que, a nível religioso, se desenvolve no profundo e magnífico mistério da Comunhão dos Santos, graças à qual se pode dizer que “cada alma que se eleva, eleva o mundo”.

Fonte: Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”D. Estevão Bettencourt, osb.Nº 389 – Ano 1994 – Pág. 462
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