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sexta-feira, 24 de abril de 2009

POR QUE “SE DESBATIZAR”?

“O Estado de S.Paulo” do dia 13.04.2009, pág. A-14, publicou que na Argentina, algumas ONGs estão propondo um “desbatismo” coletivo para as pessoas que foram batizadas quando eram bebês na Igreja Católica e não desejam mais participar oficialmente dela, já que são atéias, agnósticas ou genericamente religiosas, mas indiferentes aos preceitos católicos.
O movimento denominado “No em mi nombre”, ou seja, “Não em meu nome”, propõe aos argentinos que não se consideram mais católicos que enviem cartas aos bispos das cidades em que foram batizados para que “conste oficialmente dos registros da Igreja que não integram mais o rebanho”. Informa ainda o referido periódico que os ateus constituem um grupo em rápido crescimento naquele país, congregando 11,3 % da população.

Infelizmente, parece não se tratar de uma brincadeira de mau gosto, mas de um claro desejo de renegar o próprio Batismo. Inúmeras pessoas se proclamam “católicos não-praticantes” ou “católicos sem convicção”, mas, mesmo em tais casos, ninguém clara e abertamente deseja anular o ato que, quando recém-nascidos, as ligou à Igreja Católica. Portanto, trata-se de algo novo e radical, um repúdio público e notório do próprio Batismo.

Passado o primeiro choque, reparamos, no entanto, em algo curioso: se este ato coletivo de “desbatismo” provém do número crescente de ateus e agnósticos na Argentina, por que – supondo-se que o ateu não acredita em Deus, nem em Jesus Cristo, nem na Igreja Católica – formalizar o repúdio de algo que em sua descrença não existiu? Por que anular um ato em que nossos padrinhos, em nosso nome e para nosso benefício, renunciaram ao diabo, a suas pompas e obras? A menos que sejam pessoas que sabem o que significa o sacramento do Batismo e que se sentem incomodadas por terem sido batizadas, quer dizer não atéias propriamente.

Se for este, como parece, o caso, pode-se perguntar por que não querer estar unido a Alguém que passou pela Terra fazendo o bem, não ergueu a mão senão para curar, por que não querer nada com Jesus Cristo? Por que se desligarem oficialmente da Igreja, cujos Bispos são a continuidade histórica dos Apóstolos de Jesus? Quererão por acaso renegar a Cristo e voltar à servidão do Antagonista? Por que se desligarem de algo que não existe, se são ateus e incrédulos? Ou será que se esqueceram de que foi a Igreja Católica que acabou com a escravidão generalizada em todos os países pagãos da Antiguidade, que deu à mulher uma dignidade que as leis não lhe reconheciam, considerando-a mero objeto de prazer do homem? Que foi a Igreja que, cumprindo o mandato de seu Fundador, batizou e civilizou os bárbaros e construiu a Europa que hoje conhecemos?

Então, me desculpem, mas não são ateus, nem agnósticos, pois para o ateu como para o agnóstico tudo isso não tem valor algum.

Por que não desejam mais que a Igreja haja em seu nome, “Não em meu nome”? Quando a Igreja faz campanha de agasalho aos pobres, recruta missionários para cuidar dos doentes, jovens para acolherem em creches e abrigos as crianças abandonadas por seus próprios pais? Por que os adeptos do “desbatismo” não querem ter nenhuma participação nisso?

A que ponto chegamos! O desligamento da Igreja Católica sempre foi considerado uma terrível punição: os maiores potentados da História o temiam. Henrique IV, Imperador da Alemanha, esperou uma noite inteira na neve, rente às muralhas do castelo de Canossa, para que o papa São Gregório VII levantasse a excomunhão que sobre ele pesava. Na Inglaterra, o fato de ter excomungado um barão normando, amigo do rei Henrique II da Inglaterra, pela morte de um padre, levou o Arcebispo de Cantuária, São Tomás Becket a ser martirizado em sua própria catedral… Então tudo isso é perda de tempo? O que diriam os adeptos do “desbatismo”?

Conta-se do célebre romancista francês J.K. Huysmans que ele passou a acreditar na presença de Cristo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, quando, convidado por conhecidos metidos a esotéricos, assistiu a uma “missa negra”, celebrada por um padre apóstata. Tais foram os insultos e obscenidades que viu, praticadas contra a hóstia que concluiu: “Deve ser mesmo o Corpo de Cristo, senão eles não perderiam tanto tempo com uma simples rodela de pão!” E se converteu ao Catolicismo, escrevendo livros edificantes como “A Catedral“.

De quem virá a ordem “Ide e desbatizai”? Certamente daquele Príncipe deste mundo, seguido por aqueles infelizes que, na dura expressão de São Pedro Apóstolo, “como cães voltaram ao seu vomito.” (II Pedro, 2,22).

Jesus, no entanto, disse a seus discípulos, com infinito amor: “Ide e ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo” (Mt, 28,19). De Huysmans, podemos tirar uma grande lição: nosso Batismo vale muito, pois nos marca com o sinal do Filho de Deus.



*CLAUDIO DE CICCO é professor de Filosofia do Direito e Teoria Geral do Estado na PUCSP. Autor de HISTORIA DO PENSAMENTO JURIDICO E DA FILOSOFIA DO DIREITO, São Paulo, Editora Saraiva, 2009, 4ª edição.